(from H&M)
Esta questão popula a mente dos pais há muitos anos e volta e meia, leio artigos sobre o assunto e assisto a palestras onde se fala nisso (também).
Antigamente, há muitos anos atrás, era altamente improvável que uma criança dormisse na casa de um amigo de escola. Isso acontecia por vários motivos mas sobretudo por um motivo lógico e inquestionável: se a criança tem uma casa e se não há nenhuma ocasião especial, porque motivo haveria de dormir numa casa alheia, alterando a rotina de uma família (que por muito que goste de receber visitas, se vê forçosamente com mais trabalho, mais responsabilidade e menos privacidade)?
Com os anos, foi sendo cada vez mais comum as crianças dormirem na casa de um amigo, porém... Quão comum? E será que isso é positivo (porque há maior convivência) ou negativo?
Ouvindo opiniões que vão desde Psicólogos, Professores e Pais, cheguei à conclusão que, para uma criança em idade escolar (e quem diz crianças, diz adolescentes até aos 18 anos) dormir em casa de amigos, quando feito com mais frequência do que a suposta, é negativo.
Qual é então a frequência suposta?
Bem, vamos por partes. Que acontecimento leva a que uma criança durma na casa de outra? Uma festa de aniversário? Uma visita de estudo? Ou simplesmente porque se lembraram disso?
Isso acontece uma vez por período escolar? Uma vez de 2 em 2 meses? Uma vez por mês? Uma vez a cada quinzena? Uma vez por semana (custa-me a acreditar que existam casos como este último de uma vez por semana, mas ainda assim, achei melhor citá-lo)?
A Psicóloga Laura Kirmayer (doutorada em Psicologia Clínica) trabalha no Child Mind Institute e defende que a dormida na casa de um amigo pode trazer muitos benefícios para a criança, mas deve ser ideia da criança e não do adulto/pai/mãe.
Mais, a Dra Kirmayer defende ainda que, apesar das dormidas na casa dos amigos poderem ser divertidas, não é de todo verdade que só as dormidas nas casas dos amigos ajudem a criança a ser mais sociável.
Assim, a Dra Kirmayer explica que muitos pais acham que as dormidas nas casa dos amigos são extremamente importantes para a socialização e a perda de timidez das crianças.
Acontece que, segundo a psicóloga, isso não é necessariamente verdade, defendendo que os encontros para brincar servem perfeitamente para ajudar na socialização da criança e chegam por si só.
O Psicólogo Robert Myers explica também que as crianças devem conseguir lidar com a falta de rotina, mas que as crianças precisam muito de rotina, pelo que se a rotina é interrompida várias vezes, isso gera ansiedade, insegurança e irritabilidade na criança.
Isto significa que, apesar de os pais deverem ajudar as crianças a lidar com imprevistos, quebrar a rotina do quotidiano constantemente não só não ajuda em nada a criança, como na realidade prejudica.
A organização Healthy Children defende precisamente a mesma posição: "children do best when routines are regular, predictable and consistent" : as crianças reagem melhor quando têm rotinas regulares, previsíveis e consistentes.
Voltando então à questão: qual é a frequência certa de dormidas nas casas dos amigos?
A resposta parece intuitiva: a frequência necessária e básica (nem nenhuma, nem demais).
Há uma festa de aniversário especial que calha a uma sexta-feira ou a um fim-de-semana? Dormir na casa de um amigo da escola pode ser giro e ajudar a criança a ser mais independente.
Há um jantar de família fora? Dormir na casa dos avós pode ser bom para algum tempo de qualidade entre avós e netos.
(from Vermont Country store)
Mas quando é que é demais e acaba por prejudicar (e muito) a estabilidade emocional e social da criança?
1) quando as crianças vão dormir a casa dos amigos algumas vezes sem motivo nenhum aparente e num espaço de tempo curto. Dormirem na casa de um amigo num fim-de-semana 1 vez por mês já é mais do que suficiente, pelo que provavelmente o aconselhado seria 1 vez a cada 2 meses ou 1 vez por período escolar.
2) quando as crianças dormem várias vezes na casa de amigos ou conhecidos durante a semana (em que no dia seguinte têm aulas)
Eu, pessoalmente, não consigo concordar de maneira nenhuma com as dormidas na casa de amigos em dias de escola.
Como professora, já constatei que uma percentagem grande das crianças que dormem durante os dias de escola na casa dos amigos, têm curiosamente:
- mais queixas recorrentes psicossomáticas e físicas ("dói-me a barriga", "dói-me a cabeça", "não me sinto bem")
- piores resultados escolares nesse período de dormidas (subitamente descem as notas, fazem os trabalhos de casa de maneira mais despreocupada e descuidada. Já perdi a conta ao número de vezes que um "Muito Bom" desceu para "Suficiente" ou que um "Bom" desceu para "Insuficiente" na mesma fase em que duas crianças têm convivido mais em dormidas na casa uma da outra em dias de escola.
- mais sono, pelo que volta e meia começam subitamente a queixarem-se de sono e de cansaço
- mais chamadas de atenção, onde explicam que a mãe ou o pai não têm tempo para elas (na realidade, o que se passa é que as crianças não estão é a passar o tempo que precisam com os pais, para se sentirem amadas e equilibradas).
Claro, para tudo na vida há exceções, pelo que excluo aqui as exceções. Porém, devo dizer que, até hoje, nestes últimos anos, nunca conheci nenhuma criança que, dormindo com frequência a mais na casa de amigos, não tenha saído prejudicada de alguma maneira.
Por isso, temos a concluir daqui que:
As dormidas nas casas dos amigos podem ser muito positivas para a auto-estima, socialização e independência de uma criança, quando são esporádicas (1/2 vezes por período escolar) e em dias de férias ou fim-de-semana. Só.
Em dias de escola: rotina, rotina, rotina.
E as dormidas na casa dos avós?
Como em tudo na vida, há que haver moderação pelo que é precisamente a mesma coisa: em dias de semana, evitar. Fins-de-semana: claro, o amor de avós é dos melhores do mundo!
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