sábado, 1 de julho de 2017

Nunca se chumbou tão pouco... MAS PORQUE SERÁ?

(from Paperchase)


Li uma notícia que, em 16 anos, nunca se chumbou tão pouco, de uma forma geral, como no ano letivo passado. Quem lê de relance a notícia, atento ao estado geral do país e do mundo, fica com a sensação que o ensino, de uma forma geral, melhorou.

Há menos chumbos... Talvez isso signifique que a qualidade das aulas está melhor, que os professores estão mais motivados, que os alunos estão mais estudiosos, que afinal de contas, as salas de estudo que aparecem como cogumelos numa floresta um pouco por toda a parte estão a dar frutos...

Só que... Não.

Vamos por partes e com muita calma, que assuntos destes assim o exigem. Importa fazer a pergunta que não quer calar: por que é que há muito menos chumbos? 

Qual o verdadeiro motivo? Quem não vive dentro das teias do ensino e não está habituado a movimentar-se entre elas, não tem uma noção real do que se passa nos bastidores das reuniões de professores e das diretrizes que os agrupamentos gostam de fazer chegar aos professores.

Quem é professor, porém, sabe isto tão bem como quem escova os dentes ao fim de um dia de cansaço em piloto automático ou como quem pedala uma bicicleta, se tudo o que fez na via foi pedalar:

Para chumbar, hoje em dia, um aluno, é preciso quase enviar um requerimento ao Papa, porque de outra forma, são arranjadas todo o tipo de opções e soluções para que não se chumbe o aluno.

E porquê? Podem vocês perguntar-se: porque assim, as taxas de retenção diminuem e isso significa bons resultados: os agrupamentos estão a fazer um excelente trabalho, o país está excelente.

Só que... Não.

Eu, que em tempos idos já muito me debati para que não chumbassem este ou aquele aluno pois considerava que tinham capacidades para prosseguir para o ano seguinte e que chumbar não os ajudaria em absolutamente nada... Eu: a defensora de que, por vezes, não adiante nada chumbar um aluno... Eu, até eu! Até eu acho que se caiu num exagero tremendo, em que ninguém chumba.

Há alunos em que chumbar não os ajuda. Vamos supor um jogador de futebol de uma escola de bairro. Já está cansado de treinar sempre os mesmos passos, já os sabe de cor, mas por algum motivo, não os faz bem.
Retê-lo sempre no mesmo nível vai desmotivá-lo e nem sequer o vai fazer melhorar nos mesmos passos, que ele já sabe. Vai fazê-lo estagnar. Talvez indo para o nível seguinte, consiga absorver outras técnicas e consiga preencher as lacunas daquele passe que ele não conseguia fazer.


Mas hoje em dia, não interessa que o aluno nem saiba ler ou contar, chega ao sexto ano à mesma. Ou ao sétimo até. Não sabe ler nem interpretar textos, não consegue responder a perguntas de testes de avaliação...
Mas insistem que para o ano é que aprende, quando o grau de exigência é cada vez maior.

Este aluno é o jogador da escola de bairro que não sabe sequer o passe. Como se faz, quando se faz, porque é que se faz. Não o sabe sequer, por isso não o pode treinar sozinho. E querem pô-lo em níveis superiores.

É mais ou menos como pô-lo a jogar futebol na seleção nacional, sem nunca ter conseguido sequer marcar um golo lá nos tempos de escola de futebol do bairro.

É mais ou menos isso.
As escolas de futebol do bairro ficavam com fama de terem feito chegar centenas de jogadores à seleção nacional. Só há o pequeno pormenor de os jogadores não conseguirem sequer jogar. Mas o que interessa é que chegaram à seleção nacional... Não é?



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