(from Little Circus shop)
Há muitos e muitos anos que os seres humanos se tornaram críticos. O desenvolvimento do raciocínio permitiu precisamente o sentido crítico, a comparação e mais tarde, o julgamento.
Todos os dias, fazemos pequenos julgamentos, comparações e críticas mentais. É inevitável.
Se analisarmos as gerações de crianças que se vão seguindo ao longo dos tempos, vemos que as crianças sempre foram criticadas e críticas. Não é, portanto, um mal de agora. Mas estas últimas turmas, de crianças nascidas desde 2000, são especialmente críticas... E porquê?
O que tanto criticam estas crianças?
Para começar... Muitas coisas.
"Ai professora, sabe o que é... Ele não gosta de nada..." dizem-me as mães todos os anos.
Este tipo de criança passa as horas na escola ora a criticar o trabalho dos colegas: "eii, que desenho esquisito", a criticar a escola "esta escola também não tem nada de divertido para fazer no intervalo" ou a criticar os outros "o João passa a vida a olhar para mim".
E qual é o objetivo destas crianças?
"Sabe Deus" respondem as mães e os pais.
Posto isto, há 2 perguntas fundamentais a fazer:
1) A criança tem acesso a vários brinquedos, festas onde se pode divertir, tempo em família, tendo de uma forma geral o que ambiciona: passeios, comidas preferidas, brinquedos e elogios perante todos os seus feitos: notas escolares (independente da nota, desde que seja positiva), jogos onde vence, coisas engraçadas que diz, etc? Ainda assim, não gosta de quase nada?
2) A criança não tem acesso a muitos brinquedos, nem tão pouco tem passeios ou momentos de diversão regulares, porém, nunca gosta de quase nada?
Porque se a criança é do tipo 1:
O problema está em que a criança, por ter acesso a tanta coisa, deixou de conseguir achar graça a várias outras coisas. Isto é muito comum nos dias de hoje, com todo o acesso que temos a quase tudo. E a culpa não é das crianças nem propriamente dos pais que tentam dar o melhor aos filhos. É mesmo do excesso de informação e de coisas ao nosso redor. Vivemos atolados de tudo. Em que tudo é fácil.
É como oferecermos um passeio de carro por Sintra a uma pessoa que está habituada a viajar de avião para os lugares mais incríveis do mundo. Não é que o passeio a Sintra não seja lindo (e se calhar ainda melhor do que um passeio para outro lugar do mundo) mas a fasquia da pessoa encontra-se elevada de forma irracional. É um hábito. É como estarmos acostumados a ir trabalhar de carro, com ar condicionado no pico do verão e de repente nos dizerem para irmos de bicicleta a pedalar à torreira do sol.
A verdade é que se calhar não vamos querer ir de bicicleta a suar rua acima, mas é importante que nos "sujeitemos" às circunstâncias com alguma "elegância", que é como quem diz, fazer o que tem de ser feito, sem nos tornarmos em pessoas irritadas e irritantes.
Os pais podem tentar, aos poucos, fazer a criança esperar ou esforçar-se por algo. Se a criança quer muito um passeio num parque de insufláveis, seria por exemplo a sua prenda por uma boa nota escolar. Se a criança quer muito um conjunto de lego que é especialmente caro, explicar que para já, os pais não o podem comprar (mesmo que possam comprar, note-se!), pelo que terão de "juntar o dinheiro" até poderem: e estipular um prazo mais comprido, não dando algo "em troca", para que a criança perceba que sim, não vai receber nada para já, mas que, se esperar, terá o que ela realmente quer e não algo substituto.
Dar algo em troca, embora acalme a criança no momento, serve para criarmos na criança a sensação de que se insistir demasiado, consegue algo (pode até nem ser o carro a pilhas topo de gama da patrulha pata, mas acaba a receber o boneco da patrulha pata que balançava pendurado junto às caixas de pagamento).
Dar algo em troca, embora acalme a criança no momento, serve para criarmos na criança a sensação de que se insistir demasiado, consegue algo (pode até nem ser o carro a pilhas topo de gama da patrulha pata, mas acaba a receber o boneco da patrulha pata que balançava pendurado junto às caixas de pagamento).
Se a criança é do tipo 2:
O problema pode estar no facto de a criança não ver graça nas coisas por não se sentir verdadeiramente importante. Quer isto dizer que a criança se sente indiferente ou amedrontada no mundo.
Os pais devem, de alguma forma, dar mais atenção à criança, perguntando-lhe diariamente pela escola e fazendo um esforço para criar jogos de família com desafios, em que a criança consiga vencer e se sinta capaz e feliz, para que entenda que há atividades que são giras e que só o saberemos se as experimentarmos.
Seja como for, convém lembrar que nenhuma criança nasce excessivamente crítica. A noção que a criança tem do mundo e das coisas é construída tendo por base o que ela vive e sente ao longo da infância.
E, por vezes, uma criança crítica não se enquadra nos exemplos acima e é, apenas e somente, uma réplica de um adulto excessivamente crítico com quem convive regularmente...
E, por vezes, uma criança crítica não se enquadra nos exemplos acima e é, apenas e somente, uma réplica de um adulto excessivamente crítico com quem convive regularmente...
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