sexta-feira, 7 de abril de 2017

Conhecem o provérbio "Mais vale ser do que parecer"?

(from H&M)


Pois é, neste mundo, mais vale ser algo de positivo do que parecer... E nas salas de aula, não é exceção.

Nos últimos anos, com as redes sociais, fui assistindo a um aumento exponencial dos professores que partilham, no Facebook por exemplo, fotografias da sala de aula todos os dias (ou praticamente todos os dias).

Partilhar as atividades de sala de aula tem três pontos muito positivos:

1) permite que os encarregados de educação tenham uma ideia clara do que é feito (acham giro ver os alunos nas atividades, tiram ideias para os fins-de-semana e ainda aproveitam para mostrar aos avós e amigos os feitos das crianças)

2) faz com que os encarregados de educação se sintam de certa forma reconfortados por saberem que tudo corre bem

3) as fotografias de atividades escolares são um conjunto valioso de memórias que qualquer pessoa gosta de guardar

Mas o problema surge quando os professores se tornam inconscientemente mais preocupados com as fotografias e a partilha do que propriamente com as atividades em si e os benefícios das atividades.

Isto acontece facilmente e sem culpa propriamente dos professores, por 2 motivos distintos:

- os professores que usam as redes sociais neste contexto sentem-se de certa forma impelidos a partilhar mais e mais, pois sabem que, ao terem começado as partilhas, provocaram nos pais essa curiosidade latente que depois parece que tem de ser alimentada frequentemente

- os professores caem naquele lugar comum que hoje em dia se vive muito nas redes sociais de "se não foi fotografado é como se não tivesse acontecido"

Paremos para pensar no assunto, pois aqui o cerne da questão não é se é certo ou errado partilhar as atividades escolares. Aqui o cerne da questão é perceber de que forma se faz essa partilha.

Em primeiro lugar deve estar sempre a preocupação pelos benefícios da atividade para a turma. Depois, a atividade em si. Só depois, se houver tempo ou disposição, as ditas fotografias.

Eu, pessoalmente, não concordo que toda e qualquer atividade deva ser documentada, por muito interessante e engraçada que seja, pelo simples motivo de que documentar tudo rouba tempo aos restantes trabalhos.

Pode parecer que não, mas documentar tudo rouba efetivamente tempo... E adivinhem de onde é retirado esse tempo? Será das outras atividades lúdicas? Não. Normalmente esse tempo é retirado da matéria.

Basta vermos que, no nosso quotidiano, como família, não documentamos tudo o que fazemos com uma máquina fotográfica. Fotografamos momentos especiais, claro. Até momentos típicos. Mas será que o fazemos todos os dias? Obviamente que não, porque isso nos limitaria o tempo que temos para tudo o resto que temos de fazer, desde fazer comida, lavar loiça, preparar trabalho...

O mesmo se passa numa sala de aula. Às vezes, os professores têm vinte e cinco alunos numa divisão. Documentar tudo só pela ânsia de partilha e o sentimento de aprovação dos pais acaba por minar completamente o funcionamento normal das aulas... E acreditem: não é tarefa nada fácil fotografar vinte e tal almas que gritam, saltam e fazem caretas ao mesmo tempo. 

Já para não falar dos pais que, obviamente, não querem nem gostam que os filhos apareçam nas fotografias espalhadas pelas redes sociais... Ou dos pais que reparam que, por acaso, o filho deles apareceu duas vezes em quarenta fotografias e que a Maria, o Miguel e a Sandra estão sempre a aparecer.
E depois geram-se aqui problemas que podiam ser evitados. "A professora tem alunos preferidos!" e coisas do género.

Muita atenção com o que é exagerado. Já diz outro ditado, "o que é demais, enjoa".

Eu, pessoalmente, não vejo problema nenhum nos bons old days, em que os professores não precisavam de recorrer a redes sociais para partilhar as atividades em sala de aula.
As fotografias das atividades e dos passeios existiam, sim, mas não eram partilhadas com tanta ansiedade.

Uma boa opção é, caso seja do interesse do pais e dos professores, os professores por exemplo, no fim de cada período escolar, partilharem por email com os pais as fotografias das principais atividades escolares daquele período.

Tudo o resto (muito honestamente) parece-me exagerado.

Mais importante do que tirar fotografias, é estarmos efetivamente presentes.

E olhem que eu sou uma apaixonada por fotografia. Mas neste contexto, perdoem-me se discordam (com todo o direito que têm a isso), acho mesmo que o importante, é os alunos aprenderem, divertirem-se e evoluírem como pessoas. Se existirem algumas fotografias que sejam úteis para documentar esse crescimento pessoal, melhor ainda.


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